terça-feira, 7 de setembro de 2010

Contemplar


Ao enxergar o movimento,
Sentindo as formas daquilo que se vê,
Os preconceitos desligam,
No interno aparece o contemplado.

Ele por si só, suas trajetórias,
Trajetam internamente,
Abrindo novos caminhos;
Conexões a um novo pensar.

A tempestade provocada,
Concentrada pela anterior calmaria,
É resultado da entrega realizada
No crer dessa fantasia.

Não por ser ilusão,
Mas por ser fantástica.
Pois é quando universos se conectam,
Quando o externo e o interno se misturam.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Desejos


Se quero assim,
Desejo tudo intenso,
Busco tudo agora,
É que algo em mim pede,
Mas não porque há falta;
Existe excesso.

Se o desejo fosse somente falta,
Jamais se poderia desejar o que nunca se foi mostrado;
Seu disparo é uma condição.
E se há alimento,
Ao depois privá-lo deste,
Um vazio em seu lugar surge,
Exigindo outra refeição.

No plano dos desejos,
Há por eles entrelaces,
Distribuindo suas forças
No rearranjo de seus pesos.

O espaço de uma privação
Nos desejos adjacentes se compensa,
Sejam estes realizados ou fantasiados,
Fazendo esta área mais intensa.

Neste excesso de realização,
A satisfação é sempre pouca,
Pois os espaços vazios continuam.
O sentimento da falta é ilusório,
Criado por vontades desviadas,
Que fazem de nós dependentes
De prazeres fúteis, incoerentes.

domingo, 6 de junho de 2010

Paciência


Maleável sem ser mole,
Firme sem ser rígido,
Sutil sem ser passivo,
Preciso sem ser dominante.

Vagando pelas fenestras,
Que no devir a vida abre.
Divagando quando inexistentes,
Devagar, paciente.

Dosando a atenção
Entre o externo e o interno,
Aprendendo quando agir,
Se embebedando de observar.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

"O quereres"


"Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim"

sábado, 10 de abril de 2010

Persona



Em busca de alimento,
Por meio de aprovações saborosas,
De simples atenções dadas a qualquer momento,
E até de dominações, maldosas.

Esta parte, invisível na matéria,
Mas territorialista na consciência,
Cresce, ao se alimentar de miséria;
Forma personagens na vivência.

Por eles interage com tudo,
Mas da alma se distancia.
E quanto mais come, maior fica.
Tanto, e cada vez mais faminta,
Que esquecemos de toda nossa potência,
Os vivendo como únicas possiblidades de existência.

São balões que inflam,
Onde se percorre suas membranas,
Estando a essência no centro.

Só nos resta deixar de enchê-los,
Pois o ar escapa sozinho.
E no lento esvaziar
Suas fomes também ao pouco somem;
Se tornam possíveis seus esquecimentos.

domingo, 14 de março de 2010

sábado, 13 de março de 2010

Conceitos

Premissa sensitiva;
Acontecimento sensorial.
Ao coar do todo as semelhanças,
E juntá-las, de forma subtrativa,
Ocorrem-se mudanças,
Cristaliza-se algo primordial.

Nada foi criado.
Houve somente o reconhecer
Da idéia imanente do observado
Pela abertura do perceber.

Não há novidade para a existência,
Pois nenhum conceito a transpassa.
Mas, por outro lado, a consciência
Gozará sempre na vivência,
Ao experimentar o infinito que se passa.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Fotossíntese


Em busca dos raios brancos
Trazidos pelo amarelo da explosão vermelha,
Ela ascende
Retendo, aos poucos,
A energia, transmutada em malha
De matéria viva, em verde.

Ramo dos braços
Desse tronco que impera,
Expressa os laços
Entre o céu e a terra.

Fonte primária de comida
E também de inspiração,
Alimenta os corpos com sua vida
E as mentes com a contemplação.

Representa a vitalidade,
Mas atualmente chora,
Implorando piedade
Para que parem, agora,
E que dela não reste apenas a saudade.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Elogio

Ela é uma dama.
Moça que não sabe o quê,
Mas ama.
Em tudo feminina,
Não reconhece,
Mas já virou mulher,
Apesar de se entender menina.

Tem um olhar que resplandece,
Um enxergar curioso,
Uma atenção fascinante.
Algo que penetra,
Que me faz infantil,
Que afasta tudo de vil,
Que deixa tudo em mim errante.

Possui uma beleza diferente,
Uma presença além do presente.
O marca com seu sorriso,
Espontâneo, inocente.
Sem saber da impressão que causa,
Da paixão que provoca
Sobre os sensíveis ao que é belo,
Sobre os que se apaixonam quando a beleza os toca.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Mudança


O que sobe
Inevitavelmente descerá.
O quente
Um dia esfriará.
O sólido,
Por mais rígido, derreterá.
E o que é vivo
Sempre morrerá.

Tudo muda,
Mas a mudança,
Esta sempre há de existir.
Embalando os pólos,
Movendo no eterno,
Através do efêmero,
A alternância em elos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Turbilhão

Há tanto acontecendo,
Tanto sentimento,
Tanta emoção fluindo,
Que me perco em meu pensamento.

Tentativas de achar significados,
De encontrar coerência...
Confusões de valores
Estagnadas na consciência.

Essa razão que sempre cutuca,
Que paralisa o peito
E o impede de transbordar,
De aceitar o que foi feito.

O sentir é injustamente castrado
Por essa necessidade fútil
De dar sentidos desnecessários,
De racionalizar, inútil.

A sensação de liberdade
Tão mais livre seria
Se não existisse essa vontade
De imaginar o que aconteceria.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Corrente


Não hesite,
Não duvide,
Sempre encare,
Se permita.

Porque a vida,
Ao ser vivida,
É feita de encaixes;
Dependentes entrelaces.

Quando um caminho se rompe,
Uma onda irrompe,
Afetando muitas camadas
Antes de sua calmaria.

E os outros,
Pelos quais estamos,
Só vieram a acontecer
Pois pisamos onde pisamos.

Portando, preste atenção,
O mundo não é um moinho.
É uma corrente
De laços nem um pouco mesquinhos,
Feitos por cada ação,
Levando a incontáveis caminhos.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A boca interna


Falar a si próprio:
Faço isso a todo momento,
Mas insatisfeito em fazê-lo;
Não encontro opção.

Ao meu ver,
Não há sentido no falar interno,
Pois quem fala algo, fala a alguém,
E este é o mesmo que aquele.

Quem precisa de narrativa?
Já que o narrador é o próprio personagem.
O que se viu está visto,
Não existe outro que precisa ouvir.
Há somente um de mim.

Não entendo a necessidade de se verbalizar o que se passa.
Ler mentalmente os fatos é sem utilidade,
Comentários são dispensáveis.
Nosso ver é completo por si só.

Quem fala é o ego?
E quem ao mesmo tempo escuta,
O que será?

Essa vontade de falar,
De repetir a si mesmo,
Só nos impede de ouvir,
Quebra o ritmo do nosso perceber.

E apesar de reconhecer
Tamanha inutilidade nisso tudo,
O controle desse barulho
Raramente vem a se mostrar.

Silenciar esse narrar incessante
É o que busco há anos.
Pois nos curtos momentos de quietude
Pude enxergar sem pausas,
E a vida se mostrou muito mais bela.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Pêndulo


Quem não admite
Que a vida é triste
Jamais há de enxergar
A beleza que existe.

O movimento pendular
Entre o chorar e o sorrir
Traz a cada voltar
O peso do seu ir.

Por isso, meu amor,
Não tenha medo de sofrer,
Pois toda grande dor
Potencializa o viver.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Crepúsculo

Na cadência do sol,
Seu poente revela
Uma verdade discreta,
Intuições ao poeta.

No lento tocar
Do fogo com o mar
O silêncio percute,
Se irrompe um calmar.

Uma calmaria momentânea,
Com tudo consonante,
Mantém a si mesma
Na memória, flutuante.

O amarelo condensado,
No azul imerso,
Mostra o roxo, delineado,
Sob o laranja disperso.

Desnuda o infinito,
O traduz em cores;
Desmembrando o branco
Em um silencioso canto.