sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Corrente


Não hesite,
Não duvide,
Sempre encare,
Se permita.

Porque a vida,
Ao ser vivida,
É feita de encaixes;
Dependentes entrelaces.

Quando um caminho se rompe,
Uma onda irrompe,
Afetando muitas camadas
Antes de sua calmaria.

E os outros,
Pelos quais estamos,
Só vieram a acontecer
Pois pisamos onde pisamos.

Portando, preste atenção,
O mundo não é um moinho.
É uma corrente
De laços nem um pouco mesquinhos,
Feitos por cada ação,
Levando a incontáveis caminhos.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A boca interna


Falar a si próprio:
Faço isso a todo momento,
Mas insatisfeito em fazê-lo;
Não encontro opção.

Ao meu ver,
Não há sentido no falar interno,
Pois quem fala algo, fala a alguém,
E este é o mesmo que aquele.

Quem precisa de narrativa?
Já que o narrador é o próprio personagem.
O que se viu está visto,
Não existe outro que precisa ouvir.
Há somente um de mim.

Não entendo a necessidade de se verbalizar o que se passa.
Ler mentalmente os fatos é sem utilidade,
Comentários são dispensáveis.
Nosso ver é completo por si só.

Quem fala é o ego?
E quem ao mesmo tempo escuta,
O que será?

Essa vontade de falar,
De repetir a si mesmo,
Só nos impede de ouvir,
Quebra o ritmo do nosso perceber.

E apesar de reconhecer
Tamanha inutilidade nisso tudo,
O controle desse barulho
Raramente vem a se mostrar.

Silenciar esse narrar incessante
É o que busco há anos.
Pois nos curtos momentos de quietude
Pude enxergar sem pausas,
E a vida se mostrou muito mais bela.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Pêndulo


Quem não admite
Que a vida é triste
Jamais há de enxergar
A beleza que existe.

O movimento pendular
Entre o chorar e o sorrir
Traz a cada voltar
O peso do seu ir.

Por isso, meu amor,
Não tenha medo de sofrer,
Pois toda grande dor
Potencializa o viver.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Crepúsculo

Na cadência do sol,
Seu poente revela
Uma verdade discreta,
Intuições ao poeta.

No lento tocar
Do fogo com o mar
O silêncio percute,
Se irrompe um calmar.

Uma calmaria momentânea,
Com tudo consonante,
Mantém a si mesma
Na memória, flutuante.

O amarelo condensado,
No azul imerso,
Mostra o roxo, delineado,
Sob o laranja disperso.

Desnuda o infinito,
O traduz em cores;
Desmembrando o branco
Em um silencioso canto.