quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Existir?


Qual é a distância entre o pensar e o sentir?
Entre o sentimento e o pensamento.
Quem depende de quem?
O pensar é abstrato e o sentir é real?
Ou o sentir é codificado e o pensar sobrenatural?
O sentir é alimento do pensar ou o pensar é alimento do sentir?
Eu sinto a vida e penso o infinito, penso o improvável ou o impossível?
Penso possibilidades ou penso impossibilidades?
Especulo futuros baseado em passados. Possíveis ou impossíveis?
Sinto somente o presente.

É uma briga entre dois “eus”. O que sente e o que pensa.
Não sei qual que pensa ou qual que sente ou se os dois sentem, mas sei que apenas um pensa.
Também sei que este que especula é um personagem: imagem idealizada e sustentada por uma imprópria hipocrisia.
E o que sente é o que é, eu em essência; sem representações, sem preconceitos e com todas as possíveis percepções.
É o universo interior infelizmente acorrentado por seu carrasco, o eu personagem, o que pensa.

Especular dá segurança, certeza lógica, porém sentir é vicioso, prazer ilógico.
Sentir excessivamente sem pensar torna mais provável o engano e deixa o corpo propício ao medo.
Ao medo de errar o que não é errado, medo de fracassar sem ter fracassado, medo desumano, medo inorgânico.
Medo que restringe o sentir e aumenta o conter, que transforma a mente num depósito de conceitos não sentidos, preconceitos preconcebidos.
Medo que vem da incerteza provida da falta de experimentação, da falta de sensação.
Medo que enjaula vontades necessárias.

Se não experimentamos, não sentimos.
Se não sentimos, não vivemos.
E se não vivemos, não somos.
Existência inexistente.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Chico Buarque de Hollanda



"O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz implorar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo"

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007



Olhar que transcende a imagem
Como a metáfora, que transcende a linguagem.