segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O centro


O olho do furacão,
O buraco negro,
O redemoinho do ralo,
O botão da flor,
O vazio da origem,
O nada

No centro não há movimento,
Mas todo o redor se move.
Exatamente no meio
Tudo se observa sem distrações;
Nada distorce.
Enfim, se enxerga.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Incapacidade


O vapor
A chama

O coração brasa
A mão persegue

A mente tenta
Razão-paixão
Pensamento insustentável


o id é a força, que vai.
o superego é o reflexo, que volta.
no meio criado, o ego se estrutura.

Conflito


Às vezes a coisa, solta,
Pega em algum calo esquecido.
Vibração raiz,
Turbilhão em acontecimentos internos.

Não se percebe a causa;
O efeito tem autonomia.

O refletir é inútil,
A redenção é inevitável,
A vida se faz.

A briga, apesar,
Não existe.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A raiz


O valor filosófico da esfera.
A inefabilidade do vazio.
A (im)presença do ponto.
A (im)possibilidade do infinito.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Contemplação



A contemplação não se faz,
Se recebe.
Desligar dos impulsos próprios
Para que o que se contempla pense
Em nosso lugar.

domingo, 7 de abril de 2013

Consciência



Na passagem do externo ao interno,
Em seu reflexo nos espelhos corticais,
A engrenagem do infinito gira.

Sendo o interno parte do externo,
O fluxo deságua em si próprio.
Formam-se as espirais,
Os números irracionais,
A moção tem a porta aberta.

Estes que na verdade não são número,
Mas convergências ao vazio.
Por isso infinitos logo inidentificáveis.

E aquelas que sempre existirão
Enquanto houver o tempo,
Pois são seu carimbo no espaço.

Gerada nesse movimento
E portanto intangível,
Pois não se pára o tempo,
A consciência será sempre mistério,
Talvez a origem de todos,
E acessível apenas na experiência.

sexta-feira, 22 de março de 2013

O Haver




"Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura,
essa intimidade perfeita com o silêncio.
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo.
Perdoai: eles não têm culpa de ter nascido
Resta esse antigo respeito pela noite,
esse falar baixo,
essa mão que tateia antes de ter,
esse medo de ferir tocando,
essa forte mão de homem
cheia de mansidão para com tudo que existe.
Resta essa imobilidade,
essa economia de gestos,
essa inércia cada vez maior diante do infinito,
essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível,
essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons,
esse sentimento da matéria em repouso,
essa angústia da simultaneidade do tempo,
essa lenta decomposição poética
em busca de uma só vida,
de uma só morte,
um só Vinícius.
Resta esse coração queimando
como um círio numa catedral em ruínas,
essa tristeza diante do cotidiano
ou essa súbita alegria ao ouvir na madrugada
passos que se perdem sem memória.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza,
essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido,
essa imensa piedade de si mesmo,
essa imensa piedade de sua inútil poesia
e sua força inútil.
Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado
de pequenos absurdos,
essa tola capacidade de rir à toa,
esse ridículo desejo de ser útil
e essa coragem de comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade,
essa vagueza de quem sabe que tudo já foi
como será e virá a ser.
E ao mesmo tempo esse desejo de servir,
essa contemporaneidade com o amanhã
dos que não tem ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar,
de transfigurar a realidade,
dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é,
e essa visão ampla dos acontecimentos,
e essa impressionante e desnecessária presciência,
e essa memória anterior de mundos inexistentes,
e esse heroísmo estático,
e essa pequenina luz indecifrável
a que às vezes os poetas chamam de esperança.
Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
na busca desesperada de alguma porta
quem sabe inexistente,
e essa coragem indizível diante do grande medo
e ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer
dentro da treva.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos,
de refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história.
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho,
essa vaidade de não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento,
esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável.
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
e esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte,
esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada,
ela virá me abrir a porta como uma velha amante
sem saber que é a minha mais nova namorada."

terça-feira, 12 de março de 2013

Iluminação


Olhar que atravessa
Sorriso sem causa
Andar consciente
Respirar coerente
Pensamento sentido
Intuição permanente

Memórias quietas
Sentimentos estáveis
Amor incondicionado
Contemplação infindável
Felicidade implícita
Vitalidade inesgotável

Afastamento


Quando abri as portas da informação,
Dentro me arremessei.
Tanta perplexidade, a fé cega se fez;
Ilusões se misturaram na realidade aberta.
Tempo demorei para desatar seus nós.
Mais tempo levei para voltar à confiança,
E mais ainda para aceitar a ignorância.

O entendimento foi elevado,
Mas trouxe consigo algo:
A solidão.
Tentativa de transmissão falha,
Olhares vazios.
Quando enfim provoco alguma intuição,
Esta é somente um ou poucos fios,
Insuficientes para o tecer da malha.


O intangível


Palavra instável;
Conceito fugaz.
Significado móvel;
Significante intocável.

A origem não se enxerga.
Somente até seus padrões primeiros se pode inferir,
Que por definição já são efeito.
A causa é vazia;
A unidade é negra.

A intuição, no entanto,
É o seu próprio florescer.
Ao crescer, ramos se espalham em camadas fluidas,
Luzes atravessam oceanos.

Perspectivas quânticas;
Semióticas infindáveis.
A singularidade é sentida,
Porém permanece impalpável.


segunda-feira, 4 de março de 2013

O inominável


O todo me aparece como um infinito porém esférico oceano.
Para botá-lo em palavra é necessário suspendê-lo,
Que então deixa de ser oceano
E logo escorre pelas mãos.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Inquietude


Se na calada da mente
O silêncio te inquieta,
O espírito se debate,
E a paciência não sustenta,
Lembre-se do mar agitado,
Da tempestade pesada,
Da ventania cortante,
Do balançar do barco.

A cinética confunde,
Turbilhona a realidade.
Energia em excesso;
Se contida vira angústia,
Se extravasada somatiza.

Diminuir a rotação,
Aliviar o movimento.
Não por impedir o fluxo,
Mas por ampliar o tempo.

A duração é maleável,
É sempre possível o afastamento.
Se muito lhe aparece,
Procure enxergar de longe,
Distancie seu pensamento.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O insondável


No escuro, alimento.
No claro, expressão.
Inconsciente; consciente.

Somente a árvore vê a luz.
Para a raiz, sempre é noite.

O fluxo é do interno ao externo.
Para chegar à consciência,
A inconsciência é percorrida.

Infinito fora,
Infinito dentro;
No meio existimos.

A fonte, ninguém sabe.
O céu, todos podemos olhar,
Mas os olhos estão ao chão.

O que está em cima
Reflete o embaixo,
Mas disso não lembramos.

Início, meio e fim


Antes, havia o ponto.
Sem tempo, intangível.
Potencial puro, infinito,
Numa espera inexistente,
Em um vazio incompreensível.

Do nada, expansão eterna;
Surge a pluralidade.
Um mar de variáveis,
Em possibilidades incontáveis,
Se guia em tendências,
Numa infinita criatividade.

No equilíbrio entre calor e frio,
A expressão ganha canais,
Em arranjos se materializa,
E o ser condensa em vida.

Infinito afastar,
Silencioso congelamento.
No distanciamento sem parar,
Não restará nem pensamento.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Deus



Se as possibilidades fossem somente infinitas,
Se não houvesse tendências,
O acaso só poderia existir pontualmente,
E só haveria caos.


domingo, 18 de dezembro de 2011



Por mais que seja infinito,
O cérebro existe em dois.

Por mais que as permutações jamais se esgotem,
Um vazio sempre há de se formar.

E por menor que seja,
Há seu oculto impulso singular outro.

Uma origem oposta complementar,
Paradoxalmente necessária.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sem querendo querer

testemunho participante
interesse desinteressado
presente constante
passado esvaziado

futuro sem tendência
observação em potência
ação em iminência
presença por ausência

preocupação despreocupada
controle incontrolável
preenchimento de nada
esvaziamento inesgotável

virtuoso por desvirtuar
sendo por vir-a-ser
valoroso por não valorar
querendo sem querer

domingo, 4 de setembro de 2011

Liberdade


Vivenciamos uma rede de imagens formadas incessantemente.
Impressões do externo, subtraídas e retidas,
Edificando-se à semelhança por uma orgânica reminiscência,
Construindo-se em bases para infinitas, porém tendentes, potências.

Tendências fazem o sujeito.

Sem sujeito, não há apreensão; as impressões não recebem alimento.
Suas repetições: hábitos e necessidades, não são mais repetidas,
Deixam de influenciar.

Nada, portanto, continua ignorado.
Apagamentos, antes inconscientes, acendem.
Conexões, antes impossíveis, possibilitam-se.
A realidade ilumina sem coberturas, sem intervalos, sem fim.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Rio de Janeiro

Amanhece a cidade

Turbilhões intracranianos ambulantes
Preocupações inesgotáveis
Olhos nada focam
Consciências enxergam em relances
A continuidade não é possível

Interações castradas em segundos
Amor enclausurado da existência
Apegos despercebidos
Afastamentos inevitáveis

O verdadeiro não é visto
Presenças não são sentidas
O tempo passa ignorado