segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O todo



É preciso entender que tudo na vida
É efêmero e eterno ao mesmo tempo,
Que o paradoxo faz parte,
Que o certo é pleno
E que sua única condição é o amor.

sábado, 18 de agosto de 2007

Simetria



Dia e noite, planeta em rotação.
Feminino e masculino, translação.
O sol mantém tudo,
Galáxias giram.
Suga o buraco negro, mudo.


O cérebro, também dois,

Intui e deduz,
Mas não suga, expande,
Sem ser negro,

Sendo luz.


O cérebro, obcecadamente,
Deduz mais que intui.
Já que só aceita a intuição
Se também houver dedução,
Pois a fé, curta,
É subjugada pela razão,
Orgulhosa e intolerante;
Convencionada e cristalizada

Pelo passado, constante.


A intuição preenche metade.

A dedução a outra metade.

Se complementam,

Se relacionam,

Mas não se misturam.

Logo não há dedução

Que explique, sozinha,

Alguma intuição.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

"Contemplar é pensar". Salvador Dalí



Contemplar é pensar?
O contemplar não pode ser justamente o não-pensar?
É o momento em que o pulsar dos pensamentos se acalma e o ouvir é pleno. Em que nos tornamos apenas receptores, aprendizes da existência, sem nenhuma crítica.

Fim de tarde, na beira de um rio, um ser, estático, fita uma árvore majestosa com inúmeras folhas verdes, amareladas pelo sol quase que horizontal. Uma sensação estranha percorre seu corpo, uma agulhada suave e indolor atrás de sua mente adormece todas as suas idéias, os seus pensamentos.
As formas orgânicas dos galhos e tronco e o entrelace das raízes aparentes, junto às sombras e aos sons amenos vindo das brisas esfiapadas entre as folhas, se comportavam aos sentidos daquele humano como uma entidade divina. Sua devoção àquele momento era completa. O sentir não lhe deixava dúvidas.
O momento solene, de identificação interna com o externo, de enxergar aquela árvore como um espelho de suas ligações nervosas, uma verdade revelada, trás para si um estado de perplexidade. Após tantos anos de vida, como não havia antes percebido toda esta grandiosidade? – Pensa o ser, com um sorriso satisfeito vindo da graça da descoberta óbvia e profunda ao mesmo tempo. -
Um silêncio interno acompanhado de um conforto sensível preenchem o interior daquele indivíduo. Após tantos anos de buscas através de livros, de outros, de filosofias e religiões, foi através de uma simples árvore que seu encontro com Deus se fez.


sexta-feira, 23 de março de 2007

Necessária solidão.



Como se lida com a solidão?

Pensar na irrelevância do presente perante o futuro não adianta.
Recorrer ao passado também não.
Forçar a busca espanta, já tentar esquecer trás conseqüências.
Impossibilita a própria entrega, deixa o corpo preguiçoso, faz os anseios se esvaírem.
Mas não dói no coração, dói do lado, bem no meio.
Dor estranha, centrípeta, que desintegra, introverte.
Fecham-se os olhos, espreme-se o peito, repuxa-se a face.
Contração.
Tudo se aperta: músculos, ossos, desejos, pensamentos, sentimentos.
Parece que a bateria está fraca.
O jeito é esperar.


sábado, 10 de março de 2007

Sensatez?

Como saber aonde ir,
Se não sei onde estou.

Como saber o que virá,
Se não sei o que passou.
Como saber o que dizer,
Se não sei o que senti.
E como saber quando agir
,
Se não sei observar.

Como posso sorrir,
Se não sei chorar.
Como posso falar,
Se não sei ouvir.
Como posso curtir,
Se não sei sofrer.
E como posso viver,
Se não sei morrer.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Existir?


Qual é a distância entre o pensar e o sentir?
Entre o sentimento e o pensamento.
Quem depende de quem?
O pensar é abstrato e o sentir é real?
Ou o sentir é codificado e o pensar sobrenatural?
O sentir é alimento do pensar ou o pensar é alimento do sentir?
Eu sinto a vida e penso o infinito, penso o improvável ou o impossível?
Penso possibilidades ou penso impossibilidades?
Especulo futuros baseado em passados. Possíveis ou impossíveis?
Sinto somente o presente.

É uma briga entre dois “eus”. O que sente e o que pensa.
Não sei qual que pensa ou qual que sente ou se os dois sentem, mas sei que apenas um pensa.
Também sei que este que especula é um personagem: imagem idealizada e sustentada por uma imprópria hipocrisia.
E o que sente é o que é, eu em essência; sem representações, sem preconceitos e com todas as possíveis percepções.
É o universo interior infelizmente acorrentado por seu carrasco, o eu personagem, o que pensa.

Especular dá segurança, certeza lógica, porém sentir é vicioso, prazer ilógico.
Sentir excessivamente sem pensar torna mais provável o engano e deixa o corpo propício ao medo.
Ao medo de errar o que não é errado, medo de fracassar sem ter fracassado, medo desumano, medo inorgânico.
Medo que restringe o sentir e aumenta o conter, que transforma a mente num depósito de conceitos não sentidos, preconceitos preconcebidos.
Medo que vem da incerteza provida da falta de experimentação, da falta de sensação.
Medo que enjaula vontades necessárias.

Se não experimentamos, não sentimos.
Se não sentimos, não vivemos.
E se não vivemos, não somos.
Existência inexistente.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Chico Buarque de Hollanda



"O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz implorar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo"

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007



Olhar que transcende a imagem
Como a metáfora, que transcende a linguagem.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Memória



Hoje quero falar sobre memória.
Sobre essas estranhas fotografias do nosso viver, que como fotos normais também não resistem ao tempo.
Sobre essa memória incobrável, que não aceita ser sufocada e se rebela contra o dono.
Essa memória suspeita, memória borrada, que se tem certeza no sentir, mas se desconfia na razão.
Sem catálogo e com escolha somente na pura vontade, a qual nem sabemos se temos governo.
É irracional; se gasta ou surge sem ser pedida ou chamada.
E de vez em quando enganosa.
Mas, mesmo assim, é nossa única conexão com o passado, nosso caráter e, de certa forma, nossa vida.

E se a memória das coisas são tão distorcidas, por que a de quem somos também não seria?


domingo, 14 de janeiro de 2007



"A vida é a arte do encontro,
Embora haja tanto desencontro pela vida".

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Alguém me explica?



O que é o infinito?
E o que é o nada?
O que é matéria e o que é vazio?
Porque nos livros parece que
Este universo
É um monte de matéria no vazio.

Ué, mas se o vazio é nada,
Como pode caber algo no nada?

Ah, só se for tudo!

Então isso aqui
É o infinito no nada?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Tato



Sinto o toque,
O cheiro,
O gosto.
Ouço o som.
Enxergo o resto.

O tato, sentido primário,
A todos os outros
Se faz necessário.
Atuante em qualquer momento,
Por dor ou prazer,
Tem sua presença
Sem direito a intervalo.

Poderíamos ver,
Ouvir, cheirar...
Se todo esse sentir não fosse levado
A algum lugar em nós
Que, graças ao tato,
Recebe todos os retratos
Disso que é a interação?

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Aos que priorizam o inglês quando podem.



Olha meus irmãos:
Pra que escrever em inglês
Se temos a mais bela língua em mãos?

O português bem-dito,
Que, apesar de complicado,
Passa bem sua mensagem,
Dando amor ao que foi amado.

Abraça a mente, cutuca o peito
E torna o perceber, por instantes,
Perfeito.

Um certo alívio aos carentes de emoção,
Necessitados da beleza,
Amantes por natureza,
Maltratados do coração.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Sonhos



Sonhos:
Revelação do inconsciente.
Medos ocultos,
Desejos reprimidos,
Reflexo da alma
Negado pela consciência.

Simplesmente desperdiçado...
Taxado como mera alucinação,
Seu valor cai em desagrado
E o sonho que sonho é,
Deixa de ser.

Mas isso está errado!
Pois negar o exterior
É como negar o interior.
E como pode o ser negar o próprio ser,
Praticando de certa forma um suicídio.
Ignorando sua alma,
Que não cansa em exclamar:
- Olha eu aqui! Olha eu aqui! Olha você aqui...

Sorriso que acalma



Como posso me sentir tão bem
Com um sorriso apenas,
Que parece desenhado
Pelas mãos do artista inspirado.

Gostoso como a risada de um bebê
E detalhado como uma flor,
Esse sorriso que acalma,
Acolhe e agrada
E me faz sentir bem.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

A mão do artista

Dedos que cortam o ar,
Mãos pincelam o infinito.
Guiado à harmonia do universo,
O corpo, vívido,
Expressa a vontade divina
De exprimir o intangível.

Força invisível,
Que nos impulsiona à verdade.
Temida por tantos,
Mas aceita por poucos.
Revelada por estes
Através da infinita paixão,
Que nos sirva de exemplo
E abra, assim,
As trancas da percepção.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Mundo quadrado



Olho em volta e vejo blocos
Quadrados, regresso de consciência.
Nas ruas prédios,
Nada mais que blocos.
No máximo um círculo, volante do carro,
E na porta da garagem
Outro bloco.

Quero ver o entrelace das raízes,
Assistir ao movimento dos galhos,
Das folhas e flores
Soltas ao vento,
Que eriçam a alma,
Respondem perguntas,
Incitam respostas.

Quero acordar e ver vida,
A harmonia dos animais.
Ver a verdade por si só,
As espirais,
O Universo.

Agora, por outro lado os blocos, ah, os blocos.
Janela, porta, móvel,
Televisão, microondas, paredes.
Meu chão,
Meu teto,
Meu inverno.

Cansei de ver blocos,
Cansei da cidade.
Travas no cérebro;
Prisão à superficialidade.
Congelamento involuntário do existir.