domingo, 13 de dezembro de 2009

Tábua de esmeralda


"É verdade, certo e muito verdadeiro:
O que está em baixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está em baixo, para realizar os milagres de uma coisa só.
E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.
O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma;
O Pai de toda Telesma do mundo está nisto.
Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.
Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.
Sobe da Terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe força das coisas superiores e inferiores.
Desse modo obterás a glória do mundo.
E se afastarão de ti todas as trevas.
Nisso consiste o poder poderoso de todo poder:
Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.
Assim o mundo foi criado.
Essa é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.
Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegistos, pois possuo as três partes da filosofia universal.
O que eu disse da Obra Solar é completo."

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

sábado, 21 de novembro de 2009

O cheiro do ralo



É um passado que condena.
Passado mais que passado,
Virado carniça,
Faz minha pena.

Mil tentativas de descarga,
Entaladas no ralo,
Que de quase todas as razões
Vem do falo,
Construídas em meu crescimento.

Quero um dia poder esquecer,
Ou, melhor, superar,
Todos os podres do viver,
Todas as cicatrizes do chorar.

Remexo em minha caixa de doenças,
Cansadas, purulentas.
Tocando as feridas com agulhas,
Procurando um local que sintas,
Que renasças,
Que esqueças.

Para que do podre nasça o maduro,
Que da dor venha a fortuna,
Que todos os meus erros,
Apreendidos, mastigados,
Façam da vida algo que me una.

sábado, 14 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cartola



"Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés"

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Amada



Te dou todo meu carinho
De paixões construídas
Durante nosso caminho,
Em palavras miúdas.

Todos os olhares,
Todas as despedidas,
Todos os reecontros,
Todas as saudades.

Vivo contigo cada momento,
E com tanto encanto,
Que todo meu tormento
Se desfaz em nosso canto.

Construímos navios
Que, navegando entre nós,
Trocam mundos sem desvios,
Criam nós.

Fiquemos perto,
Ainda mais,
Pois faremos da nossa vida um porto,
Faremos da nossa vida um cais.

sábado, 26 de setembro de 2009

Ressentimento



Sofro ao relembrar,
Pois, ao reviver,
Retorno a ficar
Na presença do sofrer.

O passado doloroso,
Enraizado na memória,
Se faz então penoso,
Fabrica minha história.

Todo esse ressentir
Movido por essa vontade,
Incontrolada no devir,
Faz parte da interna maldade.

O impulso à destruição,
Imanente e lento,
Domina minha ação,
Constrói meu tormento.

Devo suprir esses fantasmas,
Causadores de aflição,
Promotores de angútias,
Geradores de inquietação.

Para enfim superar,
Há de se desprender
E, aos poucos, regurgitar
As amarras do viver.

Vinicius de Moraes

A ausência da poesia,
A necessidade que invade,
A tristeza.
Que alarde!

Preso, novamente,
Nas inconstâncias da mente,
Na insuficiência da vontade,
Que arde!

Os desejos de voltar
Às formas simples de amar
Nessa vida tão pequena.
Que pena!

Nesses desvios da procura,
A realidade mostra-se obscura
Nas buscas de faíscas de amor.
Que dor!

Quero voltar,
Viver,
Amar,
Mas para isso há que se dar.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Koan Zen



"Dois monges discutiam a respeito da bandeira do templo, que tremulava ao vento. Um deles disse:
- A bandeira que se move.
O outro disse:
- É o vento que se move.
Trocaram ideias e não conseguiam chegar a um acordo. Então Hui-neng, o sexto patriarca, disse:
- Não é a bandeira que se move. Não é o vento que se move. É a mente dos senhores que se move.
Os dois monges ficaram perplexos."

Saudade



Saudade do teu perfume,
Que às vezes acho que sinto.
Impulso instantâneo,
Na lembrança repito.

Saudade da tua voz,
A qual finjo ouvir.
Feminina, gostosa,
Forço a memória a sentir.

Saudade do nosso beijo,
No qual vejo o infinito.
Com olhos fechados,
O tempo não sinto.

Saudade de te fitar,
Bem de perto,
Pra fixar,
Com o olhar curto,
A imagem do amar,
Sem nenhum turvo.

E, felizmente,
Toda a saudade é preenchida,
Rapidamente,
Com mais perfumes marcantes,
Mais beijos paralisantes
E mais olhares inocentes.

sábado, 27 de junho de 2009

Segunda ordem



A energia, o espírito, as trocas,
São impossíveis de descrever.
A linguagem só produz associação com a matéria e sentimento.
E mesmo suas metáforas são insuficientes.

Pra passar pro papel
As percepções mais profundas da alma,
Precisa-se transpô-las a figuras de linguagem
Relacionadas a coisas físicas.

Sem a transmissão direta,
O entendimento só pode ser relembrado,
Sendo previamente necessário
E somente para o reconhecimento.

A aprendizagem espiritual independe do dizer.
Suas tentativas de registro
Apenas auxiliam e fixam confirmações
Ao reconhecermos, nelas, as raízes de suas motivações.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Ação e reação



Escrever? Sobre o que?
Os caminhos que a vida toma?
É um bom tema.

Questiono sobre a influência que nossas ações têm
Sobre nossos rumos.

Não sua inegável existência e determinância,
Mas o estado em que tais são cometidas.

Pois nosso estado as determinam,
Sendo a raiz.
As ações são os galhos,
A consequência os frutos,
Maduros ou podres,
E o que causou esse estado,
Causa indireta da ação,
O Solo.

Colhemos o que plantamos?
Ou somos a própria colheita?
Colhida também pelo universo.

E a ação correta?
Se existe, há também de haver um estado correto.
E, se nosso estado é determinado pelo o que acontece,
Fechamos um ciclo.

Mas existe o livre-arbítrio!
Só que desconheço sua total independência de escolha.
Vejo, então, que para ser livre é necessário
A prévia libertação dos estados,
Não sua contenção.
E somente não sendo influenciado pelos acontecimentos
Isso é possível.

A conexão com nosso destino é sempre constante,
Mas para vê-la não há de haver julgamento,
Pois este é ancorado ao que passou.

Se deve estar alheio, porém atento.
Inteiro, porém solto de nossas internalidades.
Despreocupado, porém consciente.
Desprendido do passado, porém aberto ao futuro.
E isso se faz no presente.


domingo, 17 de maio de 2009



Nossa árvore cresce
Enquanto a raiz desaparece.
Portanto não se esqueça
Para que ela não esmoreça.

domingo, 10 de maio de 2009



"God is a concept by which we measure our pain..."

domingo, 22 de março de 2009

Tremido pulsar



Há uma inquietude interna,
O pulso é constante.
O espírito está quente
Enquanto o corpo hiberna.

A alma, morna,
Incita o intelecto, sem cessar.
Tão fortemente,
Que o fluxo do pensamento
Corre sem pausar.

Toda essa corrente,
Por ser tão intensa,
Não tem coerência.
E o que se pensa
Embrulha a consciência.

Para associar corretamente,
O fluxo deve ser pulsante.
Esferas de conexões,
Ampliando infitamente.

O equilíbrio da mente
Reflete no ente,
E quando as idéias não oscilam
O corpo enfim sente.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

"A rosa desfolhada"



"Tento compor o nosso amor
Dentro da tua ausência
Toda a loucura, todo o martírio
De uma paixão imensa
Teu toca-discos, nosso retrato
Um tempo descuidado
Tudo pisado, tudo partido
Tudo no chão jogado

E em cada canto
Teu desencanto
Tua melancolia
Teu triste vulto desesperado
Ante o que eu te dizia
E logo o espanto e logo o insulto
O amor dilacerado
E logo o pranto ante a agonia
Do fato consumado

Silenciosa
Ficou a rosa
No chão despetalada
Que eu com meus dedos tentei a medo
Reconstruir do nada:
O teu perfume, teus doces pêlos
A tua pele amada
Tudo desfeito, tudo perdido
A rosa desfolhada"

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Movimento



O tempo escorre como água.
A vida passa como vento.
Rajadas de ar,
Às vezes frias, às vezes quentes.
Relâmpagos de dor,
O sofrimento desacelera.

A areia da ampulheta não termina,
Girá-la não adianta.
Nada nunca irá parar,
O movimento é a condição.

Pulso infinito,
Corrente constante,
Tremor trepidante,
O universo é ato.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Utilidade



Com nós no peito,
Sigo assim.
Pensar no que fazer,
Algo útil...

Como seguir algum caminho,
Se o caminho é não o tê-lo.
Ser livre como um pássaro no céu,
Em vez de um carro numa estrada.

A mente mecânica ilude...
Os sentidos estão aí
Para mostrar a verdade.

O pensamento pensa demais.
O sentimento também.
As sensações são reprimidas,
O que acompanha a dor das mesmas.

Preciso ser alguém,
O mundo pede isso.
E, apesar de me entender vazio,
Meu redor não o permite.

Preciso aprender a ser só,
A só ser...
Pois quando ela vier me buscar,
Sozinho vou estar.