quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A boca interna


Falar a si próprio:
Faço isso a todo momento,
Mas insatisfeito em fazê-lo;
Não encontro opção.

Ao meu ver,
Não há sentido no falar interno,
Pois quem fala algo, fala a alguém,
E este é o mesmo que aquele.

Quem precisa de narrativa?
Já que o narrador é o próprio personagem.
O que se viu está visto,
Não existe outro que precisa ouvir.
Há somente um de mim.

Não entendo a necessidade de se verbalizar o que se passa.
Ler mentalmente os fatos é sem utilidade,
Comentários são dispensáveis.
Nosso ver é completo por si só.

Quem fala é o ego?
E quem ao mesmo tempo escuta,
O que será?

Essa vontade de falar,
De repetir a si mesmo,
Só nos impede de ouvir,
Quebra o ritmo do nosso perceber.

E apesar de reconhecer
Tamanha inutilidade nisso tudo,
O controle desse barulho
Raramente vem a se mostrar.

Silenciar esse narrar incessante
É o que busco há anos.
Pois nos curtos momentos de quietude
Pude enxergar sem pausas,
E a vida se mostrou muito mais bela.

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