sábado, 10 de abril de 2010

Persona



Em busca de alimento,
Por meio de aprovações saborosas,
De simples atenções dadas a qualquer momento,
E até de dominações, maldosas.

Esta parte, invisível na matéria,
Mas territorialista na consciência,
Cresce, ao se alimentar de miséria;
Forma personagens na vivência.

Por eles interage com tudo,
Mas da alma se distancia.
E quanto mais come, maior fica.
Tanto, e cada vez mais faminta,
Que esquecemos de toda nossa potência,
Os vivendo como únicas possiblidades de existência.

São balões que inflam,
Onde se percorre suas membranas,
Estando a essência no centro.

Só nos resta deixar de enchê-los,
Pois o ar escapa sozinho.
E no lento esvaziar
Suas fomes também ao pouco somem;
Se tornam possíveis seus esquecimentos.

domingo, 14 de março de 2010

sábado, 13 de março de 2010

Conceitos

Premissa sensitiva;
Acontecimento sensorial.
Ao coar do todo as semelhanças,
E juntá-las, de forma subtrativa,
Ocorrem-se mudanças,
Cristaliza-se algo primordial.

Nada foi criado.
Houve somente o reconhecer
Da idéia imanente do observado
Pela abertura do perceber.

Não há novidade para a existência,
Pois nenhum conceito a transpassa.
Mas, por outro lado, a consciência
Gozará sempre na vivência,
Ao experimentar o infinito que se passa.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Fotossíntese


Em busca dos raios brancos
Trazidos pelo amarelo da explosão vermelha,
Ela ascende
Retendo, aos poucos,
A energia, transmutada em malha
De matéria viva, em verde.

Ramo dos braços
Desse tronco que impera,
Expressa os laços
Entre o céu e a terra.

Fonte primária de comida
E também de inspiração,
Alimenta os corpos com sua vida
E as mentes com a contemplação.

Representa a vitalidade,
Mas atualmente chora,
Implorando piedade
Para que parem, agora,
E que dela não reste apenas a saudade.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Elogio

Ela é uma dama.
Moça que não sabe o quê,
Mas ama.
Em tudo feminina,
Não reconhece,
Mas já virou mulher,
Apesar de se entender menina.

Tem um olhar que resplandece,
Um enxergar curioso,
Uma atenção fascinante.
Algo que penetra,
Que me faz infantil,
Que afasta tudo de vil,
Que deixa tudo em mim errante.

Possui uma beleza diferente,
Uma presença além do presente.
O marca com seu sorriso,
Espontâneo, inocente.
Sem saber da impressão que causa,
Da paixão que provoca
Sobre os sensíveis ao que é belo,
Sobre os que se apaixonam quando a beleza os toca.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Mudança


O que sobe
Inevitavelmente descerá.
O quente
Um dia esfriará.
O sólido,
Por mais rígido, derreterá.
E o que é vivo
Sempre morrerá.

Tudo muda,
Mas a mudança,
Esta sempre há de existir.
Embalando os pólos,
Movendo no eterno,
Através do efêmero,
A alternância em elos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Turbilhão

Há tanto acontecendo,
Tanto sentimento,
Tanta emoção fluindo,
Que me perco em meu pensamento.

Tentativas de achar significados,
De encontrar coerência...
Confusões de valores
Estagnadas na consciência.

Essa razão que sempre cutuca,
Que paralisa o peito
E o impede de transbordar,
De aceitar o que foi feito.

O sentir é injustamente castrado
Por essa necessidade fútil
De dar sentidos desnecessários,
De racionalizar, inútil.

A sensação de liberdade
Tão mais livre seria
Se não existisse essa vontade
De imaginar o que aconteceria.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Corrente


Não hesite,
Não duvide,
Sempre encare,
Se permita.

Porque a vida,
Ao ser vivida,
É feita de encaixes;
Dependentes entrelaces.

Quando um caminho se rompe,
Uma onda irrompe,
Afetando muitas camadas
Antes de sua calmaria.

E os outros,
Pelos quais estamos,
Só vieram a acontecer
Pois pisamos onde pisamos.

Portando, preste atenção,
O mundo não é um moinho.
É uma corrente
De laços nem um pouco mesquinhos,
Feitos por cada ação,
Levando a incontáveis caminhos.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A boca interna


Falar a si próprio:
Faço isso a todo momento,
Mas insatisfeito em fazê-lo;
Não encontro opção.

Ao meu ver,
Não há sentido no falar interno,
Pois quem fala algo, fala a alguém,
E este é o mesmo que aquele.

Quem precisa de narrativa?
Já que o narrador é o próprio personagem.
O que se viu está visto,
Não existe outro que precisa ouvir.
Há somente um de mim.

Não entendo a necessidade de se verbalizar o que se passa.
Ler mentalmente os fatos é sem utilidade,
Comentários são dispensáveis.
Nosso ver é completo por si só.

Quem fala é o ego?
E quem ao mesmo tempo escuta,
O que será?

Essa vontade de falar,
De repetir a si mesmo,
Só nos impede de ouvir,
Quebra o ritmo do nosso perceber.

E apesar de reconhecer
Tamanha inutilidade nisso tudo,
O controle desse barulho
Raramente vem a se mostrar.

Silenciar esse narrar incessante
É o que busco há anos.
Pois nos curtos momentos de quietude
Pude enxergar sem pausas,
E a vida se mostrou muito mais bela.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Pêndulo


Quem não admite
Que a vida é triste
Jamais há de enxergar
A beleza que existe.

O movimento pendular
Entre o chorar e o sorrir
Traz a cada voltar
O peso do seu ir.

Por isso, meu amor,
Não tenha medo de sofrer,
Pois toda grande dor
Potencializa o viver.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Crepúsculo

Na cadência do sol,
Seu poente revela
Uma verdade discreta,
Intuições ao poeta.

No lento tocar
Do fogo com o mar
O silêncio percute,
Se irrompe um calmar.

Uma calmaria momentânea,
Com tudo consonante,
Mantém a si mesma
Na memória, flutuante.

O amarelo condensado,
No azul imerso,
Mostra o roxo, delineado,
Sob o laranja disperso.

Desnuda o infinito,
O traduz em cores;
Desmembrando o branco
Em um silencioso canto.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Tábua de esmeralda


"É verdade, certo e muito verdadeiro:
O que está em baixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está em baixo, para realizar os milagres de uma coisa só.
E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.
O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma;
O Pai de toda Telesma do mundo está nisto.
Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.
Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.
Sobe da Terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe força das coisas superiores e inferiores.
Desse modo obterás a glória do mundo.
E se afastarão de ti todas as trevas.
Nisso consiste o poder poderoso de todo poder:
Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.
Assim o mundo foi criado.
Essa é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.
Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegistos, pois possuo as três partes da filosofia universal.
O que eu disse da Obra Solar é completo."

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

sábado, 21 de novembro de 2009

O cheiro do ralo



É um passado que condena.
Passado mais que passado,
Virado carniça,
Faz minha pena.

Mil tentativas de descarga,
Entaladas no ralo,
Que de quase todas as razões
Vem do falo,
Construídas em meu crescimento.

Quero um dia poder esquecer,
Ou, melhor, superar,
Todos os podres do viver,
Todas as cicatrizes do chorar.

Remexo em minha caixa de doenças,
Cansadas, purulentas.
Tocando as feridas com agulhas,
Procurando um local que sintas,
Que renasças,
Que esqueças.

Para que do podre nasça o maduro,
Que da dor venha a fortuna,
Que todos os meus erros,
Apreendidos, mastigados,
Façam da vida algo que me una.

sábado, 14 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cartola



"Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés"

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Amada



Te dou todo meu carinho
De paixões construídas
Durante nosso caminho,
Em palavras miúdas.

Todos os olhares,
Todas as despedidas,
Todos os reecontros,
Todas as saudades.

Vivo contigo cada momento,
E com tanto encanto,
Que todo meu tormento
Se desfaz em nosso canto.

Construímos navios
Que, navegando entre nós,
Trocam mundos sem desvios,
Criam nós.

Fiquemos perto,
Ainda mais,
Pois faremos da nossa vida um porto,
Faremos da nossa vida um cais.

sábado, 26 de setembro de 2009

Ressentimento



Sofro ao relembrar,
Pois, ao reviver,
Retorno a ficar
Na presença do sofrer.

O passado doloroso,
Enraizado na memória,
Se faz então penoso,
Fabrica minha história.

Todo esse ressentir
Movido por essa vontade,
Incontrolada no devir,
Faz parte da interna maldade.

O impulso à destruição,
Imanente e lento,
Domina minha ação,
Constrói meu tormento.

Devo suprir esses fantasmas,
Causadores de aflição,
Promotores de angútias,
Geradores de inquietação.

Para enfim superar,
Há de se desprender
E, aos poucos, regurgitar
As amarras do viver.

Vinicius de Moraes

A ausência da poesia,
A necessidade que invade,
A tristeza.
Que alarde!

Preso, novamente,
Nas inconstâncias da mente,
Na insuficiência da vontade,
Que arde!

Os desejos de voltar
Às formas simples de amar
Nessa vida tão pequena.
Que pena!

Nesses desvios da procura,
A realidade mostra-se obscura
Nas buscas de faíscas de amor.
Que dor!

Quero voltar,
Viver,
Amar,
Mas para isso há que se dar.