sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Início, meio e fim


Antes, havia o ponto.
Sem tempo, intangível.
Potencial puro, infinito,
Numa espera inexistente,
Em um vazio incompreensível.

Do nada, expansão eterna;
Surge a pluralidade.
Um mar de variáveis,
Em possibilidades incontáveis,
Se guia em tendências,
Numa infinita criatividade.

No equilíbrio entre calor e frio,
A expressão ganha canais,
Em arranjos se materializa,
E o ser condensa em vida.

Infinito afastar,
Silencioso congelamento.
No distanciamento sem parar,
Não restará nem pensamento.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Deus



Se as possibilidades fossem somente infinitas,
Se não houvesse tendências,
O acaso só poderia existir pontualmente,
E só haveria caos.


domingo, 18 de dezembro de 2011



Por mais que seja infinito,
O cérebro existe em dois.

Por mais que as permutações jamais se esgotem,
Um vazio sempre há de se formar.

E por menor que seja,
Há seu oculto impulso singular outro.

Uma origem oposta complementar,
Paradoxalmente necessária.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sem querendo querer

testemunho participante
interesse desinteressado
presente constante
passado esvaziado

futuro sem tendência
observação em potência
ação em iminência
presença por ausência

preocupação despreocupada
controle incontrolável
preenchimento de nada
esvaziamento inesgotável

virtuoso por desvirtuar
sendo por vir-a-ser
valoroso por não valorar
querendo sem querer

domingo, 4 de setembro de 2011

Liberdade


Vivenciamos uma rede de imagens formadas incessantemente.
Impressões do externo, subtraídas e retidas,
Edificando-se à semelhança por uma orgânica reminiscência,
Construindo-se em bases para infinitas, porém tendentes, potências.

Tendências fazem o sujeito.

Sem sujeito, não há apreensão; as impressões não recebem alimento.
Suas repetições: hábitos e necessidades, não são mais repetidas,
Deixam de influenciar.

Nada, portanto, continua ignorado.
Apagamentos, antes inconscientes, acendem.
Conexões, antes impossíveis, possibilitam-se.
A realidade ilumina sem coberturas, sem intervalos, sem fim.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Rio de Janeiro

Amanhece a cidade

Turbilhões intracranianos ambulantes
Preocupações inesgotáveis
Olhos nada focam
Consciências enxergam em relances
A continuidade não é possível

Interações castradas em segundos
Amor enclausurado da existência
Apegos despercebidos
Afastamentos inevitáveis

O verdadeiro não é visto
Presenças não são sentidas
O tempo passa ignorado

sábado, 27 de agosto de 2011

Tao


A coisa é una.
A partir do um vem o dois.
No espaço criado,
O infinito.

O um é o nada.
Por ser nada,
Gera o todo.

O todo não contém o nada;
Do nada se radica.
É a morada dos acontecimentos,
Não sua origem.

domingo, 21 de agosto de 2011

Paralisia

Que necessidade é esta
De mostrar a todos sua realidade?

Insatisfação com o redor;
Tudo aparece desvirtuado.

O alinhamento com o infinito,
Na volta ao ordinário,
Castra a plenitude anterior,
Mas não cega a vista das potências vividas.

Essa lembrança factual, sem sentimento,
Deixa a inquietude
De sentir que o verdadeiro é inalcançável
Sem o devido isolamento.

Nisso vem a raiva, infiel,
Transposta em grito interno,
Pois se extrovertido,
Não será ouvido,
Movimentando oposto ao seu querer.

Resta se entorpecer,
Já que a esperança se ausenta.
E o esquecer
Não é opção nem que se queira.

sábado, 13 de agosto de 2011

a questão é
que a razão,
bem no fundo,
não tem razão.
porque no fundo,
bem na superfície,
mora o paradoxo.

domingo, 31 de julho de 2011

E o mais difícil para o pensar é não esquecer de que o falar para si de nada adianta.

Pelo contrário.

sábado, 30 de julho de 2011

única saída - única entrada

o desejo da outra metade da laranja
desejo de antemão desvirtuado
visceral-ilusório
sem realizar que nao é a outra metade que chama
mas um pedaço da já existente

resta o entretenimento
da própria
que somente se alimenta
nada revela
cimentando tijolos
no muro que as separa

quero todas
quero todos
(eu?)
supressores de tantos meus e tantas minhas
(meus?)
emaranhados de conexões incoerentes
pesos ocos nas infinitas balanças
que pedem seus preenchimentos
sem explicitar que esse encher pesará e faltará ainda mais
ao expandir e surgir novos vazios

escrever
desabafo
sensação imediata mas como fim falha, de cura
único caminho possível de expressão
pois a alternativa é o silêncio
mudo

quem pode escutar? quem consegue dizer?

silêncio
.

segunda-feira, 25 de julho de 2011


There's room at the top they are telling you still
But first you must learn how to smile as you kill
If you want to be like the folks on the hill

sábado, 9 de abril de 2011

Matéria e memória



O presente é matéria;
O passado é memória.
No atual, ambos se misturam,
Determinando que presente será visto.
Presente que automaticamente vira passado,
Transformando o ser,
O atualizando.

O trânsito é sempre entre o atual e o virtual.
Este, que é, coexiste com aquele, que passa.
O presente só vira ser depois que acontece;
Preenche o mesmo oceano do passado que já existe.

O passado não é guardado;
Somos nós que nos guardamos nele.
O presente não nos aparece puro;
É distorcido, também, por nossas expectativas do futuro iminente.

O afastamento desse ansiar,
O silenciamento da crítica do que já passou,
Intensifica a percepção do atual,
Torna livre as potências.
Aparece, enfim, o contemplar.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Transfiguração castrada


Vejo todos envelhecendo,
As formas de ser se cristalizando,
Os canais com suas luzes cada vez menores,
A tendência à inércia.

Há uma espécie de gaiola pouco permeável
Movida por uma força de contração:
O conformismo.
Que engana a vontade;
Esfria a mudança.

Sei do "incorreto",
Sei das ações desviadas.
Mas a distância entre o saber e o fazer
Só se aproxima quando está curta,
E seu aumento deixa o ser atáxico.

Esse agir incoerente
Defende sua própria coerência,
Seja através de nosso medo
Ou de nosso orgulho.
Medo de mudar;
Orgulho de ser o que não se é.

O que vejo nos mais velhos
É todo esse processo já feito e esquecido
Por ser aos poucos ignorado,
Enclausurando de vez potências de expressão.
.
Já em mim, ainda vejo o processo acontecendo.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Tabu


Não escutei nada.
Não vi nada.
Não disse nada.

Mas pensei tudo.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Pecados


Nosso nervosismo é tanto;
A ira passa despercebida.
Nosso orgulho tamanho
Ofusca a crítica.

Cobiçamos demais,
E a inveja
Com ela se mistura,
E não sabemos qual é qual.

Já a fome, insaciável,
Tem a função de entreter nossa preguiça,
A qual se alimenta de si mesma.

Agora, a luxúria,
Esta só é problemática
Pois foi sempre reprimida.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Contemplar


Ao enxergar o movimento,
Sentindo as formas daquilo que se vê,
Os preconceitos desligam,
No interno aparece o contemplado.

Ele por si só, suas trajetórias,
Trajetam internamente,
Abrindo novos caminhos;
Conexões a um novo pensar.

A tempestade provocada,
Concentrada pela anterior calmaria,
É resultado da entrega realizada
No crer dessa fantasia.

Não por ser ilusão,
Mas por ser fantástica.
Pois é quando universos se conectam,
Quando o externo e o interno se misturam.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Desejos


Se quero assim,
Desejo tudo intenso,
Busco tudo agora,
É que algo em mim pede,
Mas não porque há falta;
Existe excesso.

Se o desejo fosse somente falta,
Jamais se poderia desejar o que nunca se foi mostrado;
Seu disparo é uma condição.
E se há alimento,
Ao depois privá-lo deste,
Um vazio em seu lugar surge,
Exigindo outra refeição.

No plano dos desejos,
Há por eles entrelaces,
Distribuindo suas forças
No rearranjo de seus pesos.

O espaço de uma privação
Nos desejos adjacentes se compensa,
Sejam estes realizados ou fantasiados,
Fazendo esta área mais intensa.

Neste excesso de realização,
A satisfação é sempre pouca,
Pois os espaços vazios continuam.
O sentimento da falta é ilusório,
Criado por vontades desviadas,
Que fazem de nós dependentes
De prazeres fúteis, incoerentes.

domingo, 6 de junho de 2010

Paciência


Maleável sem ser mole,
Firme sem ser rígido,
Sutil sem ser passivo,
Preciso sem ser dominante.

Vagando pelas fenestras,
Que no devir a vida abre.
Divagando quando inexistentes,
Devagar, paciente.

Dosando a atenção
Entre o externo e o interno,
Aprendendo quando agir,
Se embebedando de observar.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

"O quereres"


"Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim"