domingo, 31 de julho de 2011

E o mais difícil para o pensar é não esquecer de que o falar para si de nada adianta.

Pelo contrário.

sábado, 30 de julho de 2011

única saída - única entrada

o desejo da outra metade da laranja
desejo de antemão desvirtuado
visceral-ilusório
sem realizar que nao é a outra metade que chama
mas um pedaço da já existente

resta o entretenimento
da própria
que somente se alimenta
nada revela
cimentando tijolos
no muro que as separa

quero todas
quero todos
(eu?)
supressores de tantos meus e tantas minhas
(meus?)
emaranhados de conexões incoerentes
pesos ocos nas infinitas balanças
que pedem seus preenchimentos
sem explicitar que esse encher pesará e faltará ainda mais
ao expandir e surgir novos vazios

escrever
desabafo
sensação imediata mas como fim falha, de cura
único caminho possível de expressão
pois a alternativa é o silêncio
mudo

quem pode escutar? quem consegue dizer?

silêncio
.

segunda-feira, 25 de julho de 2011


There's room at the top they are telling you still
But first you must learn how to smile as you kill
If you want to be like the folks on the hill

sábado, 9 de abril de 2011

Matéria e memória



O presente é matéria;
O passado é memória.
No atual, ambos se misturam,
Determinando que presente será visto.
Presente que automaticamente vira passado,
Transformando o ser,
O atualizando.

O trânsito é sempre entre o atual e o virtual.
Este, que é, coexiste com aquele, que passa.
O presente só vira ser depois que acontece;
Preenche o mesmo oceano do passado que já existe.

O passado não é guardado;
Somos nós que nos guardamos nele.
O presente não nos aparece puro;
É distorcido, também, por nossas expectativas do futuro iminente.

O afastamento desse ansiar,
O silenciamento da crítica do que já passou,
Intensifica a percepção do atual,
Torna livre as potências.
Aparece, enfim, o contemplar.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Transfiguração castrada


Vejo todos envelhecendo,
As formas de ser se cristalizando,
Os canais com suas luzes cada vez menores,
A tendência à inércia.

Há uma espécie de gaiola pouco permeável
Movida por uma força de contração:
O conformismo.
Que engana a vontade;
Esfria a mudança.

Sei do "incorreto",
Sei das ações desviadas.
Mas a distância entre o saber e o fazer
Só se aproxima quando está curta,
E seu aumento deixa o ser atáxico.

Esse agir incoerente
Defende sua própria coerência,
Seja através de nosso medo
Ou de nosso orgulho.
Medo de mudar;
Orgulho de ser o que não se é.

O que vejo nos mais velhos
É todo esse processo já feito e esquecido
Por ser aos poucos ignorado,
Enclausurando de vez potências de expressão.
.
Já em mim, ainda vejo o processo acontecendo.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Tabu


Não escutei nada.
Não vi nada.
Não disse nada.

Mas pensei tudo.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Pecados


Nosso nervosismo é tanto;
A ira passa despercebida.
Nosso orgulho tamanho
Ofusca a crítica.

Cobiçamos demais,
E a inveja
Com ela se mistura,
E não sabemos qual é qual.

Já a fome, insaciável,
Tem a função de entreter nossa preguiça,
A qual se alimenta de si mesma.

Agora, a luxúria,
Esta só é problemática
Pois foi sempre reprimida.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Contemplar


Ao enxergar o movimento,
Sentindo as formas daquilo que se vê,
Os preconceitos desligam,
No interno aparece o contemplado.

Ele por si só, suas trajetórias,
Trajetam internamente,
Abrindo novos caminhos;
Conexões a um novo pensar.

A tempestade provocada,
Concentrada pela anterior calmaria,
É resultado da entrega realizada
No crer dessa fantasia.

Não por ser ilusão,
Mas por ser fantástica.
Pois é quando universos se conectam,
Quando o externo e o interno se misturam.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Desejos


Se quero assim,
Desejo tudo intenso,
Busco tudo agora,
É que algo em mim pede,
Mas não porque há falta;
Existe excesso.

Se o desejo fosse somente falta,
Jamais se poderia desejar o que nunca se foi mostrado;
Seu disparo é uma condição.
E se há alimento,
Ao depois privá-lo deste,
Um vazio em seu lugar surge,
Exigindo outra refeição.

No plano dos desejos,
Há por eles entrelaces,
Distribuindo suas forças
No rearranjo de seus pesos.

O espaço de uma privação
Nos desejos adjacentes se compensa,
Sejam estes realizados ou fantasiados,
Fazendo esta área mais intensa.

Neste excesso de realização,
A satisfação é sempre pouca,
Pois os espaços vazios continuam.
O sentimento da falta é ilusório,
Criado por vontades desviadas,
Que fazem de nós dependentes
De prazeres fúteis, incoerentes.

domingo, 6 de junho de 2010

Paciência


Maleável sem ser mole,
Firme sem ser rígido,
Sutil sem ser passivo,
Preciso sem ser dominante.

Vagando pelas fenestras,
Que no devir a vida abre.
Divagando quando inexistentes,
Devagar, paciente.

Dosando a atenção
Entre o externo e o interno,
Aprendendo quando agir,
Se embebedando de observar.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

"O quereres"


"Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim"

sábado, 10 de abril de 2010

Persona



Em busca de alimento,
Por meio de aprovações saborosas,
De simples atenções dadas a qualquer momento,
E até de dominações, maldosas.

Esta parte, invisível na matéria,
Mas territorialista na consciência,
Cresce, ao se alimentar de miséria;
Forma personagens na vivência.

Por eles interage com tudo,
Mas da alma se distancia.
E quanto mais come, maior fica.
Tanto, e cada vez mais faminta,
Que esquecemos de toda nossa potência,
Os vivendo como únicas possiblidades de existência.

São balões que inflam,
Onde se percorre suas membranas,
Estando a essência no centro.

Só nos resta deixar de enchê-los,
Pois o ar escapa sozinho.
E no lento esvaziar
Suas fomes também ao pouco somem;
Se tornam possíveis seus esquecimentos.

domingo, 14 de março de 2010

sábado, 13 de março de 2010

Conceitos

Premissa sensitiva;
Acontecimento sensorial.
Ao coar do todo as semelhanças,
E juntá-las, de forma subtrativa,
Ocorrem-se mudanças,
Cristaliza-se algo primordial.

Nada foi criado.
Houve somente o reconhecer
Da idéia imanente do observado
Pela abertura do perceber.

Não há novidade para a existência,
Pois nenhum conceito a transpassa.
Mas, por outro lado, a consciência
Gozará sempre na vivência,
Ao experimentar o infinito que se passa.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Fotossíntese


Em busca dos raios brancos
Trazidos pelo amarelo da explosão vermelha,
Ela ascende
Retendo, aos poucos,
A energia, transmutada em malha
De matéria viva, em verde.

Ramo dos braços
Desse tronco que impera,
Expressa os laços
Entre o céu e a terra.

Fonte primária de comida
E também de inspiração,
Alimenta os corpos com sua vida
E as mentes com a contemplação.

Representa a vitalidade,
Mas atualmente chora,
Implorando piedade
Para que parem, agora,
E que dela não reste apenas a saudade.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Elogio

Ela é uma dama.
Moça que não sabe o quê,
Mas ama.
Em tudo feminina,
Não reconhece,
Mas já virou mulher,
Apesar de se entender menina.

Tem um olhar que resplandece,
Um enxergar curioso,
Uma atenção fascinante.
Algo que penetra,
Que me faz infantil,
Que afasta tudo de vil,
Que deixa tudo em mim errante.

Possui uma beleza diferente,
Uma presença além do presente.
O marca com seu sorriso,
Espontâneo, inocente.
Sem saber da impressão que causa,
Da paixão que provoca
Sobre os sensíveis ao que é belo,
Sobre os que se apaixonam quando a beleza os toca.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Mudança


O que sobe
Inevitavelmente descerá.
O quente
Um dia esfriará.
O sólido,
Por mais rígido, derreterá.
E o que é vivo
Sempre morrerá.

Tudo muda,
Mas a mudança,
Esta sempre há de existir.
Embalando os pólos,
Movendo no eterno,
Através do efêmero,
A alternância em elos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Turbilhão

Há tanto acontecendo,
Tanto sentimento,
Tanta emoção fluindo,
Que me perco em meu pensamento.

Tentativas de achar significados,
De encontrar coerência...
Confusões de valores
Estagnadas na consciência.

Essa razão que sempre cutuca,
Que paralisa o peito
E o impede de transbordar,
De aceitar o que foi feito.

O sentir é injustamente castrado
Por essa necessidade fútil
De dar sentidos desnecessários,
De racionalizar, inútil.

A sensação de liberdade
Tão mais livre seria
Se não existisse essa vontade
De imaginar o que aconteceria.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Corrente


Não hesite,
Não duvide,
Sempre encare,
Se permita.

Porque a vida,
Ao ser vivida,
É feita de encaixes;
Dependentes entrelaces.

Quando um caminho se rompe,
Uma onda irrompe,
Afetando muitas camadas
Antes de sua calmaria.

E os outros,
Pelos quais estamos,
Só vieram a acontecer
Pois pisamos onde pisamos.

Portando, preste atenção,
O mundo não é um moinho.
É uma corrente
De laços nem um pouco mesquinhos,
Feitos por cada ação,
Levando a incontáveis caminhos.